Raíssa Portela

Raíssa Portela

sábado, 14 de janeiro de 2017

Sair do lugar é entrar em seus mundos secretos

Arquivo pessoal

        Não entendo essas revistas que falam de lugares paradisíacos para se esquecer do mundo por completo. Porque quando visitamos lugares assim, o que mais acontece é justamente o contrário. Relembramos o que é o mundo realmente, o que é a vida, o que de fato importa. 
       Ver uma paisagem encantadora à sua frente e ficar boquiaberto com ela é sentir a vida escorrendo pelo seu corpo. Para mim, esse é o verdadeiro mundo, não o que fizemos dele. Não é à toa que passamos o ano inteiro só pra chegar a hora das férias. Todo mundo se sente melhor quando segue o ritmo e as vontades do próprio corpo. O corpo precisa ser ouvido. E, às vezes acho que só nas férias isso acontece. 
       Acordar a hora que quiser, desde que seja a tempo do café da manhã. E, a cada novo dia, decidir o que fazer. Redescobrir o mar toda vez que o vê. Acho que toda vez que vejo o mar é como se fosse a primeira. Quem me dera, se no meu dia-a-dia tudo fosse sempre redescoberto. Até tento olhar com novos olhos as coisas que me rodeiam. Nem sempre dá. A rotina deixa o corpo cansado demais pra se excitar com os detalhes. Por isso é preciso fugir dela. Nem que seja uma ou duas vezes ao ano. Mas, no meu caso, a vontade é de fugir sempre. Porque se sentir vivo é viciante. E tudo o que eu queria era lindas e novas paisagens a todo tempo, para me servirem de inspiração. Porque sair do lugar em que se está é entrar em seus mundos mais secretos. 
     Mas enquanto eu não puder estar em férias eternas e abusar das idas e vindas, tentarei relembrar as sensações que elas me trazem para conservá-las em mim, mesmo fora delas. Me esforçarei para olhar da janela do ônibus, o lugar incrível (e ignorado também) que me cerca; tentarei explorar os lugares tão próximos e que não conheço; procurarei aprender coisas novas e nunca deixar de fazer as que eu gosto, pois também me fazem sentir viva. Me prenderei aos olhos de quem passar por mim, mesmo que por segundos apenas, porque eles também carregam outros mundos que me farão viajar. 
       Antes de por meu sonho em prática de sair do lugar sem rumo, sem compromissos, sem a obrigação de voltar, viajarei por minha terra sempre com olhar de estrangeiro. 

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